(Foto: Divulgação Luiz Ademar) |
Ademar: Eu joguei futebol de salão e
campo no São Paulo. E ganhava uns trocados jogando em dois times de campo do
bairro. Aos 17 anos, o São Paulo me emprestou para o São Bento, de Sorocaba.
Não tinha como morar no Interior por conta própria e meus pais não me deixariam
parar de estudar. Fui convidado a jogar futebol de salão federado pelo Nacional
e aceitei, desistindo do São Paulo. Chateado com essa situação e por gostar de
ler, escrever e de futebol, resolvi cursar jornalismo para tentar entrar na
área esportiva. Foi assim que tudo começou. Uma decepção de um lado resultou em
alegria no jornalismo.
Apito:
Você já trabalhou em diversos meios de comunicação: jornal, assessoria de
imprensa e TV. Qual desses você considera mais importante?
Ademar: Eu sempre adorei escrever.
Escrevo até hoje no meu blog. Por tudo isso, eu confesso, sempre me realizei
mais em jornais e na internet. Cobria o dia a dia dos clubes, viajava pelo
Brasil e pelo mundo, e entendo que as escalas eram mais honestas. Sempre teve
``meritocracia´´ na mídia imprensa, o que não acontece na TV.
Apito:
Tem algum objetivo para alcançar?
Ademar: Gostaria muito de conciliar meu
trabalho na TV com rádio, onde nunca trabalhei. Sou apaixonado pelo rádio
esportivo brasileiro e jamais atuei no setor.
Apito:
Você tem algum exemplo em quem se espelhe no meio jornalístico?
Ademar: Não! Mas adorava o estilo do
Osmar Santos, Sílvio Luiz, Faustão e José Silvério.
Apito:
Como é o ambiente de trabalho na SporTV?
Ademar: Narradores e comentarista
raramente vão à redação. Recebemos escalas por e-mail e, quando tem viagem,
vamos direto de casa para o aeroporto e do aeroporto para casa. Nos jogos na
Capital vamos para a redação no horário marcado e pouco ficamos por lá. Ou
seja, não vivo o dia a dia, o ambiente. Pouco tenho a acrescentar a respeito.
Mas me relaciono muito bem com todos e alguns sou amigo particular, como André
Hernan e Odinei Ribeiro.
Apito: Essa nova safra de jornalistas como Linhares Jr,
Odinei Ribeiro, André Hernan, Joanna de
Assis e Thiago Oliveira estão preparados para essa responsabilidade na SporTV e
futuramente em TV aberta?
Ademar: Todos os profissionais da TV
fechada estão prontos para qualquer desafio em TV aberta. Mas não existem vagas
sobrando na TV aberta. Quem está dentro, não sai. Portanto, eu duvido que existirá
oportunidade para qualquer um deles.
Apito:
Qual cobertura esportiva você mais se orgulha de ter trabalhado? Cite o jogo
que vai ficar sempre na memória?
Ademar: A Copa do Mundo de 98, na
França, quando trabalhava no Diário Popular. País fantástico, cidades
maravilhosas, e grandes matérias. Por tudo o que aconteceu com o Ronaldo
Fenômeno, entendo que a final contra a França quando o Brasil perdeu por 3 a 0,
ficará na memória para sempre.
Apito:
Como é ser o presidente da ACEESP (Associação dos Cronistas Esportivos do
Estado de São Paulo)? Teremos alguma novidade?
Ademar: Nunca tive como objetivo ser
presidente da ACEESP. Era da diretoria e minhas ideias, participações e
sugestões acabaram fazendo a diretoria me indicar, quase que por unanimidade,
para o cargo. Trata-se de uma Associações de gabinete, que existe para
credenciar e documentar a categoria. Eu procurei mudar, fazendo nossa assessora
de imprensa estar presente em todos os jogos na Capital e alguns no Interior e
na Baixada Santista, com o objetivo de auxiliar os jornalistas. Fiz parcerias
com faculdades, hotéis, restaurantes, etc. Passei a promover cursos, como de
arbitragem e de direito desportivo, e participar de Seminários, Debates,
Simpósios e Congressos. Esses viraram nossos novos desafios e novidades de ano
para ano.
Apito:
Sem dúvidas, a derrota mais vergonhosa da nossa Seleção foi a derrota de 7 a 1
para Alemanha. O que pensa sobre a nossa Seleção da copa e o que tem a crescer
nessa nova era Dunga?
Ademar: Entendo que a diretoria da
CBF errou ao contratar o Luiz Felipe Scolari pensando no passado, no título de
2002, e esquecendo que ele já estava em fim de carreira, fim de ciclo vitorioso
e vindo de rebaixamento pelo Palmeiras. E por isso as escolhas foram péssimas,
sem critérios, com jogadores horríveis, como Jô, e esquema tático defasado. O
time até que foi longe. O certo era ter parado no Chile, nas oitavas, que
evitaria o vexame do 7 a 1. Em relação ao Dunga, eu não gosto dele como pessoa
e treinador. Portanto, não crio expectativa. Aliás, eu pouco me importo com a
Seleção. Assisto, me informo e procuro detalhes por dever de ofício. Torcer, me
emocionar ou esperar que jogador em melhor fase seja convocado, jamais. Não me
empolga e, por tudo isso, se vencer algo, me surpreenderá. Se perder será tudo
normal. O melhor treinador não está na Seleção. Ele sequer está entre os 10
melhores. Aliás, o Dunga estava desempregado e acertando com a Venezuela, o que
mostra qual é o seu nível como profissional.
Apito:
Estruturalmente, o Brasil conseguiu satisfazer os turistas?
Ademar: Trabalhei na Copa no Itaquerão,
Mineirão, Arena das Dunas e Maracanã. Posso garantir que deu tudo certo no
Brasil. Pena que aquele país tenha existido somente durante a Copa. Agora
voltamos a ter nossas mazelas de sempre.
Apito:
Aproveitando o gancho sobre a Seleção, o que você pensa sobre o preconceito que
ainda temos em ter um técnico estrangeiro. Você aprova a ideia?
Ademar: Eu aprovo a ideia de
intercâmbio em qualquer área. Temos excelentes treinadores espalhados pelo
mundo. Mas nossos jornalistas, em especial os mais antigos, e os treinadores,
não têm cabeça aberta para isso. No futebol ainda somos, já em menor escala,
retrógrados.
Apito:
Das novas Arenas que você já visitou, qual a mais sofisticada (alimentação,
localidade, designer do estádio, gramado etc)?
Ademar: Gostei de todas e não tive
problema em nenhuma. A mais linda que trabalhei foi a Arena da Amazônia.
Maracanã e Arena das Dunas foram as melhores de trabalhar, também pelas cidades
maravilhosas que elas ficam.
Apito:
Você está trabalhando na Copa do Brasil sub 20, o que viu de bom e o que pode
melhorar?
Ademar: Eu adoro competições de categorias
de base. Os clubes, em especial os médios e pequenos, deixaram de investir na
base, pararam de revelar e foram para o fundo do poço. Especificamente em
relação à Copa do Brasil Sub 20, a fórmula é interessante, igual Copa do Brasil
dos profissionais. Nada a reclamar.
Apito:
Você acha que deve existir a censura no Jornalismo? Por quê?
Ademar: Jamais! Vivemos em um País
democrático. Todos nós temos o direito de nos manifestar livremente. Se alguém
não concordar, ou se sentir ofendido, que procure a Justiça e exija retratação.
Apito:
Hoje as reclamações sobre o calendário do futebol brasileiro são quase sempre
presentes. Os jogos são muito próximos, o que aumenta as lesões, o desgaste
físico e emocional. Alguns vão até mais longe pedindo o fim dos campeonatos
estaduais. O que você pensa sobre o calendário, o que tem a mudar e se acabar
com os estaduais seria a melhor solução?
Ademar: Inteligência. Basta isso para o
calendário ser mais humano. Sou totalmente a favor dos Estaduais. Eu o faria
com 32 clubes, ou seja, aumentaria 12 na Primeira Divisão. Tornaria uma atração
espetacular o Paulistão, na mesma fórmula da Copa do Mundo. Oito chaves com
quatro times na primeira fase. Os 16 eliminados na primeira fase passariam a
lutar contra o rebaixamento, que aumentaria para oito times, para incentivar a
Segunda Divisão, com oito clubes para o acesso seguinte. E os 16 classificados,
em esquema de Copa, seguiriam lutando pelo time em mata mata.
Apito:
Você nasceu em 1968, então das Seleções que viu jogar, qual foi a melhor? Qual
era o principal jogador e por quê?
Ademar: A melhor Seleção que vi jogar
foi a de 1982, comandada pelo mestre Telê Santana, com meio-campo fantástico
formado por Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico. Não ganhou por circunstância, mas
deixou muita saudade pelo futebol apresentado durante os preparativos e na Copa
do Mundo.
Apito:
A partir do momento que começou acompanhar futebol, monte a sua “equipe de
todos os tempos” incluindo o técnico.
Ademar: Rogério Ceni; Leandro, Oscar,
Gamarra e Júnior; Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico; Careca e Romário. Técnico:
Telê Santana
Apito:
Deixe uma mensagem para aqueles que estudam e sonham ser jornalistas.
Ademar: Adore ler e escrever. Conhecer
outras línguas é fundamental, em especial o inglês. Estude bastante, aceite
qualquer desafio, em qualquer editoria, mesmo que tenha uma predileção pelo
esporte. Insista, persista e nunca desista. Como acontece em toda profissão, as
dificuldades serão enormes. Porém, o jornalismo é apaixonante e valerá a pena
todos os esforços para ser um profissional realizado.
Os leitores do Apito amigo agradecem sua participação. Até breve!
Uma das melhores entrevistas, Parabéns. Continue assim. Melhorando sempre.
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