segunda-feira, 10 de novembro de 2014

LUIZ ADEMAR: "POUCO ME IMPORTO COM A SELEÇÃO BRASILEIRA"

(Foto: Divulgação Luiz Ademar)
O blog Apito amigo teve o prazer de receber o comentarista, blogueiro e presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo, Luiz Ademar. Jornalista formado (FIAM, dezembro de 1990). Iniciou na Folha Metropolitana de Guarulhos em 1991. Foi para o Diário Popular em 92, que virou Diário de São Paulo, onde ficou 10 anos. Trabalhou no WebAmigos, Textual, Lance!, Sobral, Jornal Arquibancada, GloboEsporte.com, blogueiro no Kigol e colunista no jornal O Movimento. Desde janeiro de 2009 é comentarista esportivo no SporTV/PFC. É dono do Blog Futebol Caipira, que é atualizado diariamente.

Apito: Primeiramente apresente-se para nossos leitores. Quando decidiu ser jornalista?


Ademar: Eu joguei futebol de salão e campo no São Paulo. E ganhava uns trocados jogando em dois times de campo do bairro. Aos 17 anos, o São Paulo me emprestou para o São Bento, de Sorocaba. Não tinha como morar no Interior por conta própria e meus pais não me deixariam parar de estudar. Fui convidado a jogar futebol de salão federado pelo Nacional e aceitei, desistindo do São Paulo. Chateado com essa situação e por gostar de ler, escrever e de futebol, resolvi cursar jornalismo para tentar entrar na área esportiva. Foi assim que tudo começou. Uma decepção de um lado resultou em alegria no jornalismo.

Apito: Você já trabalhou em diversos meios de comunicação: jornal, assessoria de imprensa e TV. Qual desses você considera mais importante?
Ademar: Eu sempre adorei escrever. Escrevo até hoje no meu blog. Por tudo isso, eu confesso, sempre me realizei mais em jornais e na internet. Cobria o dia a dia dos clubes, viajava pelo Brasil e pelo mundo, e entendo que as escalas eram mais honestas. Sempre teve ``meritocracia´´ na mídia imprensa, o que não acontece na TV.

Apito: Tem algum objetivo para alcançar?
Ademar: Gostaria muito de conciliar meu trabalho na TV com rádio, onde nunca trabalhei. Sou apaixonado pelo rádio esportivo brasileiro e jamais atuei no setor.

Apito: Você tem algum exemplo em quem se espelhe no meio jornalístico?
Ademar: Não! Mas adorava o estilo do Osmar Santos, Sílvio Luiz, Faustão e José Silvério.

Apito: Como é o ambiente de trabalho na SporTV? 
Ademar: Narradores e comentarista raramente vão à redação. Recebemos escalas por e-mail e, quando tem viagem, vamos direto de casa para o aeroporto e do aeroporto para casa. Nos jogos na Capital vamos para a redação no horário marcado e pouco ficamos por lá. Ou seja, não vivo o dia a dia, o ambiente. Pouco tenho a acrescentar a respeito. Mas me relaciono muito bem com todos e alguns sou amigo particular, como André Hernan e Odinei Ribeiro.

Apito: Essa nova safra de jornalistas como Linhares Jr, Odinei Ribeiro, André Hernan, Joanna de Assis e Thiago Oliveira estão preparados para essa responsabilidade na SporTV e futuramente em TV aberta?
Ademar: Todos os profissionais da TV fechada estão prontos para qualquer desafio em TV aberta. Mas não existem vagas sobrando na TV aberta. Quem está dentro, não sai. Portanto, eu duvido que existirá oportunidade para qualquer um deles. 

Apito: Qual cobertura esportiva você mais se orgulha de ter trabalhado? Cite o jogo que vai ficar sempre na memória?
Ademar: A Copa do Mundo de 98, na França, quando trabalhava no Diário Popular. País fantástico, cidades maravilhosas, e grandes matérias. Por tudo o que aconteceu com o Ronaldo Fenômeno, entendo que a final contra a França quando o Brasil perdeu por 3 a 0, ficará na memória para sempre.

Apito: Como é ser o presidente da ACEESP (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo)? Teremos alguma novidade?
Ademar: Nunca tive como objetivo ser presidente da ACEESP. Era da diretoria e minhas ideias, participações e sugestões acabaram fazendo a diretoria me indicar, quase que por unanimidade, para o cargo. Trata-se de uma Associações de gabinete, que existe para credenciar e documentar a categoria. Eu procurei mudar, fazendo nossa assessora de imprensa estar presente em todos os jogos na Capital e alguns no Interior e na Baixada Santista, com o objetivo de auxiliar os jornalistas. Fiz parcerias com faculdades, hotéis, restaurantes, etc. Passei a promover cursos, como de arbitragem e de direito desportivo, e participar de Seminários, Debates, Simpósios e Congressos. Esses viraram nossos novos desafios e novidades de ano para ano.

Apito: Sem dúvidas, a derrota mais vergonhosa da nossa Seleção foi a derrota de 7 a 1 para Alemanha. O que pensa sobre a nossa Seleção da copa e o que tem a crescer nessa nova era Dunga?
Ademar: Entendo que a diretoria da CBF errou ao contratar o Luiz Felipe Scolari pensando no passado, no título de 2002, e esquecendo que ele já estava em fim de carreira, fim de ciclo vitorioso e vindo de rebaixamento pelo Palmeiras. E por isso as escolhas foram péssimas, sem critérios, com jogadores horríveis, como Jô, e esquema tático defasado. O time até que foi longe. O certo era ter parado no Chile, nas oitavas, que evitaria o vexame do 7 a 1. Em relação ao Dunga, eu não gosto dele como pessoa e treinador. Portanto, não crio expectativa. Aliás, eu pouco me importo com a Seleção. Assisto, me informo e procuro detalhes por dever de ofício. Torcer, me emocionar ou esperar que jogador em melhor fase seja convocado, jamais. Não me empolga e, por tudo isso, se vencer algo, me surpreenderá. Se perder será tudo normal. O melhor treinador não está na Seleção. Ele sequer está entre os 10 melhores. Aliás, o Dunga estava desempregado e acertando com a Venezuela, o que mostra qual é o seu nível como profissional.

Apito: Estruturalmente, o Brasil conseguiu satisfazer os turistas?
Ademar: Trabalhei na Copa no Itaquerão, Mineirão, Arena das Dunas e Maracanã. Posso garantir que deu tudo certo no Brasil. Pena que aquele país tenha existido somente durante a Copa. Agora voltamos a ter nossas mazelas de sempre.

Apito: Aproveitando o gancho sobre a Seleção, o que você pensa sobre o preconceito que ainda temos em ter um técnico estrangeiro. Você aprova a ideia?
Ademar: Eu aprovo a ideia de intercâmbio em qualquer área. Temos excelentes treinadores espalhados pelo mundo. Mas nossos jornalistas, em especial os mais antigos, e os treinadores, não têm cabeça aberta para isso. No futebol ainda somos, já em menor escala, retrógrados. 

Apito: Das novas Arenas que você já visitou, qual a mais sofisticada (alimentação, localidade, designer do estádio, gramado etc)?
Ademar: Gostei de todas e não tive problema em nenhuma. A mais linda que trabalhei foi a Arena da Amazônia. Maracanã e Arena das Dunas foram as melhores de trabalhar, também pelas cidades maravilhosas que elas ficam.

Apito: Você está trabalhando na Copa do Brasil sub 20, o que viu de bom e o que pode melhorar?
Ademar: Eu adoro competições de categorias de base. Os clubes, em especial os médios e pequenos, deixaram de investir na base, pararam de revelar e foram para o fundo do poço. Especificamente em relação à Copa do Brasil Sub 20, a fórmula é interessante, igual Copa do Brasil dos profissionais. Nada a reclamar.


Apito: Você acha que deve existir a censura no Jornalismo? Por quê?
Ademar: Jamais! Vivemos em um País democrático. Todos nós temos o direito de nos manifestar livremente. Se alguém não concordar, ou se sentir ofendido, que procure a Justiça e exija retratação.


Apito: Hoje as reclamações sobre o calendário do futebol brasileiro são quase sempre presentes. Os jogos são muito próximos, o que aumenta as lesões, o desgaste físico e emocional. Alguns vão até mais longe pedindo o fim dos campeonatos estaduais. O que você pensa sobre o calendário, o que tem a mudar e se acabar com os estaduais seria a melhor solução?
Ademar: Inteligência. Basta isso para o calendário ser mais humano. Sou totalmente a favor dos Estaduais. Eu o faria com 32 clubes, ou seja, aumentaria 12 na Primeira Divisão. Tornaria uma atração espetacular o Paulistão, na mesma fórmula da Copa do Mundo. Oito chaves com quatro times na primeira fase. Os 16 eliminados na primeira fase passariam a lutar contra o rebaixamento, que aumentaria para oito times, para incentivar a Segunda Divisão, com oito clubes para o acesso seguinte. E os 16 classificados, em esquema de Copa, seguiriam lutando pelo time em mata mata.

Apito: Você nasceu em 1968, então das Seleções que viu jogar, qual foi a melhor? Qual era o principal jogador e por quê?
Ademar: A melhor Seleção que vi jogar foi a de 1982, comandada pelo mestre Telê Santana, com meio-campo fantástico formado por Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico. Não ganhou por circunstância, mas deixou muita saudade pelo futebol apresentado durante os preparativos e na Copa do Mundo.

Apito: A partir do momento que começou acompanhar futebol, monte a sua “equipe de todos os tempos” incluindo o técnico.
Ademar: Rogério Ceni; Leandro, Oscar, Gamarra e Júnior; Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico; Careca e Romário. Técnico: Telê Santana

Apito: Deixe uma mensagem para aqueles que estudam e sonham ser jornalistas.
Ademar: Adore ler e escrever. Conhecer outras línguas é fundamental, em especial o inglês. Estude bastante, aceite qualquer desafio, em qualquer editoria, mesmo que tenha uma predileção pelo esporte. Insista, persista e nunca desista. Como acontece em toda profissão, as dificuldades serão enormes. Porém, o jornalismo é apaixonante e valerá a pena todos os esforços para ser um profissional realizado.


Os leitores do Apito amigo agradecem sua participação. Até breve!

Um comentário:

  1. Uma das melhores entrevistas, Parabéns. Continue assim. Melhorando sempre.

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